segunda-feira, 2 de julho de 2012

A REGIÃO SIMULTÂNEA

Prefacio das antologias Cronopios/Arraia PajeurBR escrito por Carlos Emilio C. Lima, Pipol e Claudio Portella


São cerca de cem autores pra lá de revolucionários e inovadores que participam dessas antologias. Estamos com um imaterial literário e ímã poético digno e maravilhoso nas mãos, quase inigualável, sem nenhuma dúvida só comparável ao que se fez e escreveu no momento pré-modernista que precedeu e se instalou naquele faixa de tempo que ressoou entre a Padaria Espiritual do Ceará brasileiro no final do século XIX e a paulista e também brasileira Semana de Arte Moderna do ano 22 do século XX passado. É o expresso 2222 da Central do Brasil que partiu direto para depois do ano 2000 que chegou agora mesmo em 2012 aqui apitando suas mensagens de uma grande colheita de novas imagens nunca vistas antes... Seus passageiros alucinados, todos esses escritores e poetas, viram coisas que jamais ninguém havia visto, acessaram das janelas loucas do trem de éter em que viajaram paisagens que ninguém antes avistara, realizaram uma viagem que ninguém havia feito antes, foram a lugares estranhos, que ninguém também havia descrito dessa revoltada maneira, eles trazem os recolhos e as lembranças futuras do que ainda não vimos, sentimos, percebemos, captamos, do que ainda vamos ver, do que agora vamos ler. Trouxeram, aos que vamos ler agora no papel impresso das arraias tremulantes, estão trazendo, as impressões e as expressões de uma viagem além dos territórios conhecidos. E falam uma linguagem escrita de um povo profundo, meio aérea submarino enigmática que aprenderam poderosamentedurante o percurso de cartografias exuberantes. Beberam de tudo e buscaram em todos os meios e mídias e todas as linguagens das artes e das ciências uma síntese renascente, um viés. Esses textos são o veículo expressivo 2222 que há muito pressentíamos. A acrescentada lágrima humana de alegria do sol. Nos trilhos moventes infalíveis da poesia ele chegou, esse novo tipo de trem, suspenso, multidimensional, com olhos calmos de furacão, azeitado de luzes eletrônicas da natureza (foi a natureza que criou a eletrônica através do homem) e cibernético de almas, ruflando sonidos de dançarinos sentidos, apitando os novos céus, emitindo as outríssimas formas com os seus faróis de juventude estelar. Luz verde estremecendo as mentes para ajustamentos a novas significações de modos de dizer, de escrever, cantar e narrar. Novos gêneros literários aqui foram criados. Galáticos-arbóreos. Nada obedece a qualquer padrão anterior, na maioria desses textos. Esse fluxo, essa potência, essa força poética que aqui vai se avolumando nestes livros triangulares e giratórios nos faz navegar por mundos bem mais que inesperados . Não é uma brincadeira. Vão se abrindo eclusas de um outro tipo de tempo além do quântico, de uma nova linguagem poético-narrativa com o lançamento destes livros junto com a nossa cósmica pandorga Arraia PajéurBR 4 em conjunção cronopiana. Lemos todo o material das antologias com a mais surpreendida atenção e só podemos comunicar aqui a todos vocês o nosso deslumbramento, o nosso espanto total pelo encontro do completamente inédito, jovem, florescente, do irradiar do anteriormente inimaginável, daquilo que ainda não existia de modo algum no horizonte do imaginário habitual a que estávamos acostumados a lidar num antigo mundo cerceado, cercado, azedado e domesticado, manipulado por grupos,esqueminhas, falsas elites literárias, linguagenzinhas da moda, grupinhos étnicos exclusivistas, modismos filosóficos, tendências estéticas impingidas pelos rebeldes anexos do sistema e baixos interesses, através de uma mídia esclerosada, mercantil autoritária e parcial por sua própria natureza, em sua maioria, com, obviamente, as afáveis exceções de praxe, representante de poucas pessoas, entidades e corporações de nenhum modo interessadas no coletivo e no verdadeiro imaginário. O que estávamos antigamente, anteriormente acostumados a ler na maioria dos textos, contos e poemas e nas antologias até bem recentes da literatura dita brasileira já não se propaga nestes livros de nossa revista asa delta, vela marinha de pássaro da imaginação. O novíssimo desconhecido surgiu agora aqui mesmo, pulsa, emite e está emanando neste portal. E tudo por causa da internet, este trabalho de Cronópios e de alguns outros poucos sites e portais literários congêneres deste o início do século. Não sabemos ainda porque nenhum crítico literário se debruçou até agora sobre esse material riquíssimo publicado no portal literário Cronópios, a região multisimultânea de toda uma época da literatura nacional. Por esse motivo essas quase antiantologias agora afloraram no papel, chegaram ao tato das mentes e mãos dos leitores deste país.Cronópios é o portal cultural que tem mais trabalhado e construído nestes anos recentes as flechas dos sentidos de uma real difusão, desdobrando diariamente há anos o mais célere e completo panorama literário contemporâneo, este tesouro que a velha mídia oprimia com seus renitentes cardeais, tornava invisível, tentava de todos os modos sufocar, esmorecer, enterrar, literalmente. E ainda tenta e retenta. E muitas das paquidérmicas editoras antinacionais evitam publicar. Estas antologias vão mudar o eixo da literatura brasileira.

Foi o Cronópios, de fato, o portal que rompeu, neste oito anos desde sua fundação, o bloqueio editorial e midiático que se fazia ao verdadeiro imaginário deste país, ao coração amoroso infinito do povo brasileiro. Este mesmo povo que ainda vai surpreender o mundo. Esse papel (eletrônico e anímico) desempenhado por Cronópios e MnemoZine, revista que lhe é agregada, já é bem reconhecido. Isso já se inscreveu nos pixels da história da cultura brasileira, de um modo indelével, marcante. Faltava, somente, a publicação desses livros, talvez os primeiros livros triangulares do mundo (e se não forem, serão) que a ArraiaPajéurBR agora transporta e distribui. Faltava o selo, a materialização impressa, bela, do projeto, a união dos esforços de todos em uns livros mais do que concretos.

Estes livros triangulares giratórios rompem, finalmente, com sua força inovadora, o bloqueio editorial, cultural e mental que oprimia a literatura brasileira nesses trinta anos de reinado estéril e brutal do neoliberalismo e da manipulação midiática que asfixiava a imaginação do país a níveis mesmo insuportáveis. Que a gráfica poesia que esta revista e seus livros triangulares giratórios emanam esteja à altura do material imaterial, intrinsecamente espiritual que transportam: a nova literatura brasileira que com seus novos flexos e nexos reencantará o mundo, trazendo-o de volta a si mesmo. FRISSON NOUVEAU! Há um valor criativo ascensional nesse momento mágico. As comportas musicais de energia cósmica da imaginação literária foram reabertas por todos estes autores com suas linguagens inesperadas, seus dizeres imprevisíveis e renexos belamente enigmáticos do que ainda não pode ser configurado porque é a surpresa de inusitadas dimensões. A outra forma da Lua mostrou-se! Extraordinários aportes de uma poética renovante que vem flutuado no bojo emplumado do século XXI. Réstias de horizonte regraduando-se de outras escalas mentais abrindo suas pálpebras... luminascentes... Não se trata apenas de uma nova geração, mas de uma nova geração de linguagem que faz pousar um outro espírito distanciando-se criativamente de toda uma época que morre, que já vai pós-tarde. Uma nova linguagem, a internet, só teria que revolucionar a linguagem literária. O maneirismo pós-modernista foi abandonado para sempre.
Certas características ,traços, evidências saltam aos olhos dos olhos na maioria desses textos que não são contos, não pertencem a uma etiologia da forma tradicional requerida pelo conto.Mas como Mário de Andrade, parodiando mediunicamente a Duchamp disse que conto era tudo aquilo que o autor quisesse chamar de conto, podemos dizer que aqui nesses livros triangulares todos os novos gêneros já foram gerados e que nada aqui é mais conto, nem capítulo de romance, lista poemática, poema em prosa, proesia, fricção de ficções, bula poética , roteiro onírico de cinema para a mente, mesclas, escrita-viagem. Os velhos gêneros evaporaram.
Se alguns autores narratizam a historia de iluminação , o atingimento da córnea universal, da mente espacial simultânea coletiva , vai-se evidenciando pelas frestas das frases desses textos e poemas que ela chegou ,multiaplicada, nos autores aqui reunidíssimos
E os títulos, são poemas por si só, nem precisam ser outra coisa que não títulos, de uma vez. Mas os autores são vorazes em suas miltiplicidades. Todo mundo jardina em muitos territórios aqui, faz muitas coisas, pós- fotografia, musicapaisagem, teatro para içar o fundo do mar , dança pós-quântica, fiosolfias, ninguém fica parado estatelado numa atividade só, nesse ponto todo mundo aqui é renascentista, mexe com ciências, artes, esportes metafisicos,mexe com tudo se interessa; e por causa disso, porque é hábil em muitas linguagens faz profundas reformas na arte de narrar e na arte da poesia... Um tecido de fios de horizontes são estes textecidos.São textos que vieram do futuro mas aí a turma que viajou no tempo cuja máquina fofa é a literatura resolveu fazê-los aqui neste presente até pra picotar, espantar de um jeito tao a realidade velha antiga que estava ficando chatíssima de tão pós-moderna. MUDARAM TUDO.
E quando há histórias elas aqui retornam com um fantástico com mais ambiguidades, ambivalências. O pessoal estribilha os contares, faz grande painéis pintados na forma das letras de música fotograda como se do alto , imensas canções escultoras escritasdramatizadasfilmadas em grandes espaços letrados pela mente câmera clara em prosa mergulhada ascencionada. O povo brasileiro assoprou fundo aqui no material: as vogais fluem, libertas, as consoantes levitam, as vírgulas se dissolvem, dissipadas voam das frases, chega um vento claro do horizonte-fronte, frases poéticas sincopadas, meio cantadas, cromatismo rítmico .Desengachou ,soltou-se ,subiu a pipa, a arraia da escrita leve. O antigo muito pesado ficou lá no chão, algo estalou inesperadamente fora das mãos. Agora muitíssima poesia passeia, nunca mais é prosa seca. O pessoal aprendeu com o mar, com as chuvas, as enchentes, os relâmpagos eletrônicos, as grandes marés urbanas das cidades desiguais.
Todo mundo aqui, a maioria, saiu da mesmice, de um falso círculo mágico realista que parecia obrigar a uma linguagem sem poesia quando o assunto se imantava “real”. Estampejam desamarrados dos textos-moldes antigos, das prevaricações de um falso realismo urbano , esses textos viajam levissismos, às vezes faltam uns artigos definidos, um advérbio risca a página, estranha, não desgruda mesmo da frase. Não importa. Se. Ele é, cintila bem assim .O céu alaranjado –amarelo dos alquimistas taoístas foi previsto à caminho em muitas dessas frases aqui, destes poemas. O realismo disse adeus aos véus, dissolveu-se em retorções geladas, esfarinhando-se numas, em vertentes flexíveis inovantes, nessas sintaxes mutantes,” suja de cidades”. ”Cada um no seu século ; o palavreado muda”
A antíteses, os paradoxos, os oxímoros, os estribilhos-pontes, agora estribrilhos, as repetições até à lua, as cadências, a musicastralidade das frases já é um alento ao realismo transcendental dos textos, palavras escritas numas sintaxes tremuladas demais por milhões de influências de todos os tempos e de todas as direções, novas gírias, expressões recém-saídas dos princípios ainda nem acontecidos.
E todos os começos são incríveis, nenhum autor começa igual ao outro, gente que mergulhou emcinemamusicateatroliteraturaartesplasticasfilosofiafotografiafisicaastronomiaoceanografiatempestades e saiu com os olhos alterados de dentro de tudo isso, gente bem humana, com seus contos pós-vocais e poemas pós-mentais.
A maioria desses escritores já teria desistido, em uma outra época , aos primeiros esboços de recusas das editoras do velho tempo pré-web. Há muita e lindíssima coisa boa aqui que não teria tido vazão, acaso ainda mandassem no espaço cultural da literatura as editoras tradicionais de papel. Graças ao Portal Cronópios não foi assim, não ficou assim. Essas antologias são a prova disso. Quase todos os autores, poetas eficcionistas, nesses livros triangulares são muito jovens e porque fazem e conhecem de tudo como mestres de uma movíssima, novissima e vivíssima contemporânea Renascença, um lirismo inédito aguaceia por aqui. O pessoal voltou a poetar com invenção. Mediunizou-se de novo. Só vai entender bem o que fez daqui a cinquenta anos, se.
Um Remodernismo na poesia, porque novas formas de poetar são aqui inventadas, ecos de outras não-métricas reboam nas superfícies de telas mui apuradas de tão novos modos de sentir. Estamos todos chegando junto com estes poetas no interior dos olhos herméticos e belos do furacão, estamos todos nos ajustando, correndo levitando para o interior da grande mente coletiva de uma nova era. Dessa vez é verdade. São arquétipos-móbiles, Calder, as palavras estão contentes.
As imagens voltam de voos, rompem as águas paginadas das telas de cinema, re-voltam. Não mais há aqui imagens falsas, de estúdio. Uma nova ética poética. A poesia remove as coisas coisadas demais, as velhas coisas, aplaina o terreno. Às vezes, o poema cristaliza- numa casulo-segundo, um relato meio como se com os bordos vaporando, ilimites flanando ruflando uivando, nos ouvidos invisíveis de poesia. Quando tem mais uma música que não pertence à audição a gente sabe que é mais do que prosa, que é poesia. É que ressoa. O céu do eu.
Ainda vão ter que inventar tantas teorias para embalar essas novas frequências poéticas!
Ah, vale ainda dizer que aqui ninguém tem medo da mitologia, do tonal, do astral, do superastral, do grande amor...Das estrelas-reticências...do piscapiscar...
Há uma felicidade aqui.
O pessoal desbastou, o pessoal encontrou...
Carlos Emílio C . Lima
Pipol
Claúdio Portella

Fortaleza, São Paulo, 9 de março de 2012


Carlos Emilio C. Lima é escritor, poeta, editor, ensaísta, antidesigner, mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Ceará. Fez mestrado em literatura espanhola na Universidade de Yale (não concluido). Editor de inúmeras publicações literárias tais como a revista o Saco Cultural, a revista Cadernos Rioarte, o jornal Letras&Artes (prêmio da APCA para melhor divulgação cultural do país em 1990), a revista triangular Arraia Pajéurbe. Correpondente da revista espanhola El Passeante no Rio de Janeiro. Publicou os romances A Cachoeira das Eras,A Coluna da Clara Sarabanda (editora Moderna, 1979), Além Jericoacoara, o observador do Litoral(Nação Cariri editora,1982), Pedaços da História Mais Longe, 1997, com prefácio de José J.Veiga e apresentação de Braúlio Tavares (editora Impressões do Brasil, 1997), Maria do MonteO romance inédito de Jorge Amado (Tear da memória editora, 2008). Ver a versão eletrônica aqui no Cronópios nesta mesma coluna Constelação de Saliva do mesmo "livro" com o título O romance inédito e esquecido de Jorge Amado na voz da velha e negra senhora, os livros de contos Ofos (Nação Cariri,1984), O romance que explodiu (editora da Universidade Federal do Ceará, 2006, com orelha de Uilcon Pereira). O livro ensaístico Virgilio Varzea: os olhos de paisagem do cineasta do Parnaso(cooedição da Editora da Fundação Cultural de Santa Catarina e da Universidade Federal do Ceará, 2002). Tem ainda inéditos os livros Culinária Venusiana (poesia), Delta do rio suspenso(ensaios), A outra forma da Ilha (contos fantásticos), Teatro submerso (dramaturgia para o fundo do mar), Solário (contos infantis) de onde vem também o texto acima. E-mail:carlosemiliobarretocorrealima@yahoo.com.br


Download em PDF: http://pt.scribd.com/doc/98870047/A-Regiao-Simultanea



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